Ai, esse nosso apego a tudo que ficou para trás é intrigante. Quando uma relação termina temos que aprender a lidar com a coreografia das ausências e, ao mesmo tempo, com a falta de perspectiva para novas apresentações. Pior quando a vida nos coloca na ponta dos pés e nos cobra um desprendimento do que ficou. Ai tudo fica tenso e todos aqueles movimentos deslizantes desaparecem, visto que nosso apego era forte com as vibrações que aquela pessoa nos trazia e mais ainda com o espetáculo de vida que tínhamos. Por mais que queiramos nos desprender é mais fácil o contrário. Isso porque bate um desânimo em enfrentar uma nova fase de solidão nos ensaios e começar outra vez todo aquele alongamento. De certa forma é tão mais fácil continuar o que tínhamos, continuar os passos hipnotizantes e fascinantes que sabíamos.
Simples. Queríamos apenas nos encolher e guardar a lembrancinha da época boa que vivemos, guardar aquela sensação, aquela melodia. Queríamos de volta o que tínhamos, a alegria que esbanjávamos, a energia que nos impulsionava, o ritmo que nos eletrizava. Mesmo assim sabemos que é preciso nos livrar da confusão que os rodopios da dor nos causaram, lembrar que aquele par (aquele mesmo) não é mais envolvente. Lembrar que o mundo continuou seu ciclo, seus ensaios e shows. As pessoas continuaram suas rotinas, o sol não se apagou, as flores desabrocharam, as crianças seguiram para o circo... O mundo não parou seu compasso para fazer nosso cenário de dor e nem nossa trilha melancólica. E no fim, só dói quando desejamos nos inclinar, ou seja quando pensamos, quando ficamos lembrando e remoendo.Só dói quando cutucamos nossos calos . Então decidimos não mexer e seguir a dança, sem nos apegar demais ao par e ao baile de ontem. Afinal, todo dia tem uma dança nova. E quer saber, ultimamente andamos mais para balada onde se dança só!
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