Na gaveta...
Author: lilisokeyTodo mundo tem uma gaveta para guardar bagunça, utilitários e coisas nonsense. Sou clichê quanto a isso: tudo junto e misturado, só cultuando a forma desorganizada de ver minhas coisas. De vez em quando abro minha gaveta e está tudo lá, por ora empoeirado ora reluzindo. Às vezes implico com a dita cuja e trancafio tudo dentro, deixo a lembrança se esvanecer e jogo a chave fora. Dois anos, dois dias ou dois segundos depois me arrependo. Dai fico ensandecida por arrebentar logo o lacre, os cadeados e meu julgamento anterior. Em seguida tiro tudo de lá, limpo a sujeira, espano o pó e organizo milimetricamente. Chego até a fazer juras de que nunca mais agirei de tal forma.
Mas tenho lá momentos de atear fogo, lotar de dinamite e acender o estopim. Inconstâncias derivadas de sentimentos confusos, prazer!
Quando ignora-se por muito tempo essa gaveta, dá medo ao abrir. Medo de ser descuidada e remexer tudo que guardei minuciosamente. Medo de que tudo que lutei para esconder exploda em liberdade, espalhando de novo o rastro de destruição. É difícil saber a hora em que essa gaveta deve ser remexida.
Tenho instantes de querer guardar tudo. E nessa busca desenfreada por manter o máximo de coisas lá dentro, acabo por deixar a organização de lado. Essa desorganização torna rotineiro o sumiço de alguns guardados. Ai bate logo um desespero e apelo para São Longuinho. Às vezes o que tanto se procura está camuflado ao meio de todo seu conteúdo. Justamente um dos lugares mais óbvios. Mas nossos olhares cansados já não estão tão nítidos para perceber. Procura-se tanto no exterior para depois perceber que o almejado encontra-se acomodado no interior da sua velha gaveta.
O fato é que cultivamos o hábito de guardar papéis, fotografias, frascos de perfume, jóias, cartas, sentimentos e objetos que acreditamos um dia usar. O tempo passa e constatamos que esses guardados não serão mais utlilizados.Os desapegados eliminam categoricamente essas inutilidades, os sentimentais preferem fazer o "parto" de maneira poética. O importante é não ignorar que esse momento chegou.
Às vezes é difícil separar o joio do trigo e escolher o que ainda é significativo. Mas quando isso acontece, é um momento glorioso de renovação.
Enquanto esse momento não chega, entre folhas rasgadas, pilhas e batons, vale guardar as lembranças que a memória falha um dia poderá esquecer: Vale guardar as imagens que a visão borrada poderá enfraquecer, vale guardar as canções de uma possível audição errante, vale guardar a candura que o coração inocente já teve .Vale guardar as lembranças dos amores. Vale guardar o afeto, o amor, a vontade de estar sempre junto, os toques, beijos,abraços e laços. Vale guardar as lágrimas e a dor da saudade, vale guardar o que assimilei quando a lágrima substituiu um sorriso. Vale guardar, enfim, tudo o que aprendi.
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feelings
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